Finalmente podem ver os DVD's da Ana dos Cabelos Ruivos no site do Planetade Agostini!
Link directo
Espero que gostem!
Animes antigos que passaram na RTP há cerca de 10-15 anos ou ainda mais!
Fomos gentilmente recebidos por esta simpática actriz, que partilhou connosco as suas memórias sobre os diversos trabalhos que fez em dobragens de séries de animação. Iniciámos a conversa relembrando (com imagens) alguns dos seus trabalhos mais marcantes, como o Zezé, a Lili e a galinha Cristina de “A Senhora Pimentinha”, o Kiki de “Tao Tao”, a Rainha Ana de “Os Três Mosqueteiros”, a Lena e a gata Furu de “Bia, a Pequena Feiticeira” e a Princesa Catrina de “Raio Azul”. O nosso muito obrigado à Margarida pelo seu trabalho, que foi e continua a ser importante para nós, e pelo agradável momento que nos proporcionou ao conceder-nos esta entrevista.
Pode falar-nos um pouco do seu percurso como actriz?
Eu nasci em Angola. Vim para cá fazer um curso de arquitectura de interiores. Na altura em que já tinha acabado o meu curso, fui frequentar o Ar.Co em algumas artes plásticas: escultura, desenho – pintura não, porque nunca quis muito pintar -, seriagrafia, fotografia, enfim, várias artes. Nessa altura, fui ao Conservatório frequentar umas aulas de dança e aí mudei de ideia e pensei que não era nas artes plásticas nem na decoração onde ia ser o meu percurso. Isto foi antes do 25 de Abril. O Conservatório estava em grandes remodelações, numa chamada experiência pedagógica e portanto aceitava pessoas de fora. Eu conheci todas aquelas pessoas do teatro e pensei que era por ali, portanto depois larguei toda a parte que era das artes plásticas e fui fazer o Conservatório. E aí foi o princípio de tudo. Ser actriz era uma coisa que eu nunca quereria. Estava longe de mim, porque tinha tido uma experiência qualquer em pequenina num palco, um nervoso, esqueci-me das deixas... Ser actriz era uma coisa longe da minha ideia, mas depois, já mais crescidinha, achei que era por ali que eu ia conseguir resolver-me, expressar-me. O meu caminho seria por ali.
Então começou no teatro…
E comecei no teatro! Fiz umas quantas peças. Estreei na Cornucópia num papel do “Woyzeck”, do Büchner, em 1978. Estava mesmo a acabar o Conservatório. A minha peça final do Conservatório foi já depois dessa peça. Depois fiz duas coisas com o Teatro Universitário, na Cantina Velha. Fui fazendo uma coisa aqui, uma coisa ali… E em 1982 é a altura em que me convidam para fazer um papel nas dobragens. E são as dobragens que me conseguem ir dando dinheiro para eu ir vivendo, porque só com o teatro nunca teria conseguido.
Qual foi a primeira série que fez?
A primeira coisa que eu me lembro de ter feito foram dois episódios do “Tom Sawyer”, dirigidos pelo João Lourenço. A seguir, o João Perry fica também a dirigir e chama-me então para o meu primeiro grande papel, numa série chamada “Belfy e Lillibit”, onde trabalhei com a Maria de Medeiros. Isto é o princípio. Depois, vieram várias coisas… Fiz “Era uma vez o Espaço”, em 1984, também dirigida pelo João Perry. Então, começa a dirigir também o António Montez (com quem fiz “A Senhora Pimentinha”). Dos directores todos que eu conheço, o António Montez deve ter sido o mais exigente. Como vocês sabem, quando estamos a dobrar, os bonecos batem as boquinhas e quem faz as traduções nem sempre tem os bonecos à frente, de maneira que, quando aparecem os bonecos e temos o texto, nem sempre as coisas coincidem. Portanto todos os directores emendam o que é necessário emendar, porque às vezes o boneco está ali a bater com a boquinha e a gente tem quatro coisas para dizer. Outras vezes, temos uma data de linhas e o boneco bate um bocadinho a boca e acabou! Não dá para conseguir enfiar tudo lá dentro! (risos) Portanto, há sempre imensa adaptação dos desenhos e dos textos. O João Perry mudava imenso e o António também. Mas o António mudava aquilo com imenso rigor. Realmente, de todos os directores com quem trabalhei, o António Montez deve ter sido talvez aquele que era mais exigente. E havia uma coisa extraordinária que agora não acontece, com a técnica. Hoje, a gente está a ver o boneco em televisões e grava. Se nos atrasamos na entrada, a máquina puxa a nossa frase toda para trás. Se por acaso há uma pausa maior, eles vão e “esticam” a coisa. Portanto, nós podemos gravar mal que tudo se resolve tecnicamente. Na altura da “Senhora Pimentinha”, nós gravávamos com fita. Era num estúdio grande da Nacional Filmes, onde tínhamos um enorme ecrã. O filme era todo partido aos bocadinhos e cada bocadinho era colado – chamava-se àquilo pescadinhas. Eles punham a pescadinha na máquina e nós estávamos todos juntos a gravar, não era um a um. E tínhamos que acertar todos nalguma vez! Não havia muitas pistas. Hoje, as mesas de dobragem têm pistas e pistas, tanto assim que cada um grava na sua pista. Na altura tinha 3 ou 4: uma pista para os actores, uma pista para o som, uma pista para o som de referência e depois alguma outra para os gritos ou para a música… Nós tínhamos que gravar todos ao mesmo tempo e tínhamos que acertar todos nas bocas ao mesmo tempo! Se havia um que tinha dormido mal e que não acertava nas bocas, os outros podiam ter todos acertado mas tinham que fazer tudo outra vez! E a pescadinha ia andando na máquina sempre. Aquilo chegava ao fim do take (uns 30 ou 40 segundos), recomeçava e nós recomeçávamos também até acertarmos todos ao mesmo tempo. Às vezes havia um que não ficava muito bem, mas ficava melhor… Já estávamos ali há que tempos e depois íamos ficando um pouco embaraçados… A falhar, a falhar, os outros todos a repetir, era um pouco chato! (risos) Mas eu acho que era um muito bom ambiente, era muito engraçado. E depois tinha aquela coisa maravilhosa de às vezes ver e ficar impressionada a olhar para o ecrã da televisão: “parece mesmo que eu estou a falar ali”. Não havia aquela coisa de agora, o boneco continua a bater a boquinha e não há lá som nenhum, ou ao contrário. Era extraordinário, mas era difícil.
E no caso dessa série ainda havia uma dificuldade acrescida porque vocês faziam muitas vozes. O elenco era relativamente reduzido…
Imensas vozes! Eu acho até que nem nos pagavam para a quantidade de trabalho que a gente fazia, mas era divertido. Enquanto actriz, era muito enriquecedor, porque obrigava-me a descobrir coisas em mim que eu não sabia. Obrigava-me a estudar a mim própria. Fazer uma voz “assim”, uma voz “assado”. Foi uma escola para mim, uma coisa extraordinária e maravilhosa. Fui-me dedicando a isto de uma maneira, que aquela ideia que as pessoas têm – “ah, os actores que fazem dobragens, coitados…” – para mim não era nada disso, porque eu estava sempre lá a fazer o meu trabalho com imensa alma. E divertida, porque muitas vezes parei takes e interrompi por me estar a rir, por me estar a divertir enquanto estava a fazer. Era um tempo muito agradável.
E depois da “Senhora Pimentinha”?
Fiz “O Vento nos Salgueiros”, onde eram poucas vozes das mulheres, era tudo homens. Era eu e a Teresa Madruga. Foi o João Perry que dirigiu. “Oom e o Piu Piu”, que era um amor de uma série para crianças muito pequeninas. Era um pintainho, uma coisa amorosa. Também foi o Perry que dirigiu. O “Tao Tao” foi o Montez... Fiz alguns episódios da “Rua Sésamo”, dirigidos pelo António Feio. Depois o “Hey! Bumboo”, o “Patrácula”… “Os Três Mosqueteiros” foi o António Montez, o Cadichon também foi o António Montez… O “Sindbad” acho que também foi ele… “O Raio Azul” foi o Perry que dirigiu. Havia a “Madalena”, que era a Ermelinda [Duarte] que dirigia. Já é mais recente, de 95… Isto é o que me consigo lembrar. Depois do “Cadichon”, começaram a pôr mais pessoas a dirigir. Também fiz uma série de dobragens com o Carlos Freixo.
Que era o seu marido nos “Três Mosqueteiros”… (risos)
Exactamente. E o Carlos passou também a dirigir. Já há uns anos que ele dirige, na Matinha, filmes da Disney. A última série em que trabalhei com ele era muito engraçada, chamava-se “Os Dinossauros”. Também dobrei com a Carmen [Santos] a dirigir, fiz várias séries com ela. Ela é maravilhosa a dirigir. E, mais tarde, com o Rui de Sá. Trabalhei com várias pessoas, mas as boas memórias são um bocadinho mais para trás, porque isto da técnica ser muito desenvolvida faz com que aquela coisa da equipa que havia no princípio se perca um bocadinho. Quando vamos dobrar sozinhos, aquilo não tem a mesma graça, porque a nossa relação é entre nós e o boneco – só! – ao passo que antigamente aquilo era uma espécie de “todos juntos”, era uma coisa absolutamente viva, era como se estivéssemos no palco, embora não tivéssemos o público, mas estávamos ali. Pode ser que haja outros actores que gostem mais, mas para mim não é a mesma coisa, até porque os sons dos outros, podemos ter referência no auscultador, mas é uma coisa completamente diferente. Estamos a seco, estamos só nós e o boneco. A emoção é diferente e eu gostava mais de antigamente.
Então podemos recordar mais um trabalho dessa época áurea, que é “Os Três Mosqueteiros”, uma série que tem imensos fãs. Que recordações é que guarda desse trabalho?
Para mim, foi um papel difícil, porque a minha voz não era tão grave. Aquele tom que era obrigada a fazer era gravíssimo, porque tinha que puxar a voz cá para baixo e portanto dava-me a sensação de que era sempre monocórdica, não tinha expressões. Se me queria emocionar mais ou ficar mais zangada, se queria rir, achava sempre que saía daquele tom e deixava de ser rainha e passava a ser princesa, porque a minha voz era mais aguda, mais fininha.
Mas fez muito bem!
Obrigada! Isso é óptimo de ouvir, mas realmente foi um papel difícil, diferente daqueles meninos e aquelas meninas que eu fazia, que era só puxar um bocadinho a voz e já ficava lá… Mas foi bom, era uma equipa fantástica. O Carlos Freixo é um dobrador incrível, é fantástico a dobrar. Ele muda inflexões, muda conforme os personagens, muda a rapidez de voz…
Nesta série, ele fazia também a voz do mosqueteiro Aramis, que se vestia de homem mas era, na verdade, uma mulher. A voz que ele fazia era fantástica, porque estava “a meio caminho”.
Ele muda a voz de uma maneira extraordinária e acerta sempre! Mas eu acho que todos esses actores eram bons. Há uma coisa muito curiosa: o facto de ser um bom actor não significa que seja um bom dobrador. Há actores fantásticos que não são bons dobradores, porque os ritmos que eles têm para dizer as coisas não são os ritmos da máquina, dos bonecos. E portanto, quando começam a falar, o boneco já acabou, ou esquecem-se do papel… E são bons actores, não está isso em questão. E às vezes há bons dobradores que acertam sempre nas coisas e que representam bem e que também não são assim tão bons no palco ou cá fora. É uma coisa muito engraçada. Neste caso, acho que eram bons actores e bons dobradores. Fizemos isto no tal estúdio enorme da Nacional Filmes e ainda dobrávamos todos juntos. Já havia a possibilidade de algum actor gravar separadamente, mas ainda fizemos todos juntos. Às vezes era complicado, porque eram muitas pessoas. Via-se o que é que íamos fazer no dia seguinte. Se havia algum actor que só aparecia a meio do episódio, então podia ir mais tarde. Os actores também precisam de dormir, não é? (risos) Era um trabalho que a gente fazia quase sempre a meio tempo. Fazíamos todas as manhãs e à segunda-feira fazíamos manhã e tarde, porque os actores normalmente folgam à segunda-feira. Havia séries em que não era possível, porque estava o estúdio ocupado de manhã, então fazíamos à tarde. Eu acho que a “Belfy e Lillibit” eu gravei sempre à tarde. Não sei se vocês têm ideia, mas é um trabalho muito cansativo, não só para a voz mas mesmo para a cabeça, porque aquilo exige imensa atenção. Uma coisa também muito curiosa em termos de representação é que, se uma pessoa não descansa bem, não dorme o suficiente, vê-se logo, porque as entradas não são a tempo, há um cansaço quase imperceptível na conversa, mas que em termos da máquina, a capacidade de reacção do actor está deficiente, de maneira que aquilo são milésimas de segundo mas o suficiente para não entrar no sítio certo. Os actores mais conscienciosos sabiam que tinham que dormir pelo menos umas tantas horas para que no dia seguinte a coisa funcionasse como devia ser. Mas faz parte da nossa profissão, temos obrigação de fazer direitinho, não é? (risos)
Há alguma situação cómica de que se recorde?
Não, assim pormenores não. Às vezes distraía-me e largava-me a rir no meio da minha fala ou no meio da fala do outro, portanto a coisa ficava mal e tinha-se que recomeçar. Porque eu divertia-me a fazer. Às vezes as cenas eram muito cómicas e fazia-me rir. Assim uma cena muito cómica não me lembro…
Algo que a tenha marcado…
Que me tenha marcado, foram algumas coisas. Por exemplo, eu tinha muita dificuldade em fazer gargalhadas, ao princípio. Não tinha muito domínio daquilo, de maneira que passei algumas vergonhas com o António Montez, porque eu queria rir e aquilo saía-me muito mal (risos), ficava ali takes e takes a ver se conseguia sair uma gargalhada. Foi um bocadinho complicado. Até que tive de aprender tecnicamente como fazer aquilo. Disso lembro-me, passei algumas vergonhas… Assim cenas da gente se ter escangalhado a rir, é como aquelas cenas dos filmes. Acontecem muitas vezes, porque a língua se prende e fica uma coisa gaga ou a palavra não sai direita, sai com o “R” no sítio errado, essas coisas assim provocam sempre riso, porque as pessoas estão ali todas concentradas. Alguma coisa que saia daquela concentração, escangalha-se tudo a rir. Lembro-me de uma vez, não sei já em que série, em que houve uma coisa destas, em que largou tudo a rir e depois queríamos recomeçar, começávamos a dobrar e largávamo-nos a rir no mesmo sítio.
O que é que pensa do facto da RTP ter deitado fora o vosso trabalho, as dobragens que vocês tão bem fizeram?
Acho absolutamente lamentável. Com as técnicas que existem hoje, podiam ter guardado, porque é um registo, aliás, do trabalho deles, que foi pago. Eles pagaram, deviam ter guardado. Não para fazer negócio, mas como registo da própria televisão. O departamento infanto-juvenil que eles tinham era uma coisa que funcionava muitíssimo bem.
E nós, os fãs, não queremos outras vozes nas séries, portanto isto agora é um problema, porque se as séries forem lançadas, a RTP não tem as dobragens…
Vão ter que fazer, se houver a vontade de se fazer outra vez, mas provavelmente serão outras vozes, porque já há actores mais novos incorporados nestas equipas.
Não é a mesma coisa, porque nós estamos habituados às vossas vozes. Estamos habituados à Rainha Ana com a sua voz, ao Aramis com a voz do Carlos Freixo, etc.
Eu percebo isso, mas nem consigo compreender como é que a RTP fez uma coisa dessas. Em termos de registo da história de uma televisão, devia haver.
As séries de animação são coisas que marcam uma geração inteira, por isso não se compreende como é que eles fizeram isto.
Não consigo compreender. Nem sabia! Eu pensei que eles tivessem isso arquivado lá num canto. Acho uma coisa mesmo triste… Há pessoas que são muito importantes, dirigem muito bem e fazem crescer muitos dinheiros, como o Sr. Emídio Rangel, que conseguiu destruir uma coisa que toda a gente achava que funcionava, porque se vocês eram pequeninos e viam estas séries, é porque a coisa funcionava. E conseguiu, pela sua maneira de dirigir os departamentos, destruir esta coisa. Os actores diziam que gostavam de fazer isto e que não era propriamente o dinheiro que nos levava a fazer isto. E não era! Mas isto é um trabalho muito complicado, muito difícil de fazer, exige muito do actor. E não é qualquer um que faz, como eu já vos expliquei. Portanto devemos ser remunerados justamente em relação ao trabalho que fazemos. Não é pelo facto de gostarmos muito e de querermos fazer as coisas para as crianças que devemos ganhar uns “amendoins”. Era o que ele queria. Ele dizia que “Se gostam tanto de fazer, qual é o problema? Façam, que a gente paga isto.” E nós não queríamos isso, não é? Estou a dizer isto quase como uma reclamação. Foi principalmente a partir dessa altura que a qualidade passou a ser muito inferior. Eu, quando olho, hoje em dia, para as séries, não acho muita graça. E as dobragens eram boas. Quando vemos os filmes que passam em Espanha e são dobrados, aquilo é como se fossem sons originais, não há lá boquinhas fora do lugar. Era como nós fazíamos aqui com os bonecos animados, o que desapareceu. Não estou a querer acusar os meus colegas. Só estou a dizer que, com o dinheiro que ganham, se calhar estão-se nas tintas para a maneira como a coisa sai, se vai um bocadinho mais dentro da boca ou menos dentro da boca. Porque isso também contribui. Se me dão 10 reis para estar ali uma hora, então vou fazer o máximo de horas possível e seja o que Deus quiser! Se calhar, hoje em dia, parte da má qualidade que existe é por causa da má organização, do mau funcionamento das coisas e do mau pagamento, evidentemente. Tenho muita pena que um dia tenham destruído a maneira como este departamento da televisão funcionava. Estou a dizer isto com um bocado de lástima, com um bocado de pena, porque ter acontecido assim foi mau. Foi mau para nós todos.
Para terminar, quer falar-nos um pouco do que faz actualmente, ou do que tem feito nos últimos anos?
Felizmente, tive a oportunidade de ir trabalhar para o Teatro São Carlos, na parte do palco, da cena. Fui chamada pelo João Perry, que foi convidado a certa altura para fazer uma encenação lá e eu já tinha trabalhado com ele no teatro, como assistente. Portanto, digamos que alarguei o meu trabalho para a parte de assistência de encenação, porque também trabalhei com a Silvina Pereira e com outros encenadores. E então fui parar à ópera, que é um sítio muito bonito, maravilhoso, de que eu sempre gostei, porque alia o teatro à música. E portanto durante algumas temporadas, de vez em quando – não é sempre, porque os encenadores portugueses não são muito convidados para fazer encenações e não são todos que me querem, porque cada um tem os seus colaboradores e portanto vão escolhendo conforme lhes apetece, mas às vezes há encenadores estrangeiros que vêm e precisam de mais colaboradores, ou de alguém que faça a ligação aqui e portanto de vez em quando lá vou eu fazer uma assistência e também já fiz duas encenações na ópera. Fiz uma semi-cénica, “Viúva Alegre”, que apresentei em Macau e depois na Madeira, e fiz o “Matrimónio Secreto”, uma ópera muito engraçada do Cimarosa, que apresentei no São Carlos e, mais tarde, na Figueira da Foz. E tenho feito umas coisinhas nas novelas. Já não faço teatro há uns cinco anos. Mas tenho uma história muito gira para vos contar: na altura em que estava a fazer a primeira assistência na ópera, com o João – era uma ópera também do Cimarosa mas uma coisa bélica, “Horácios e Curiácios”, uma ópera que tinha a ver com as guerras de Roma – havia uma cena onde existia uma mulher com duas crianças. Houve um dia em que aquela senhora não pôde ir, porque tinha um compromisso qualquer, e eu, como era assistente – pau para toda a obra (risos) – lá fui fazer de mãe, para estar com as crianças no palco. Então eu estava lá com as crianças e um virou-se para mim e disse-me: “Eu conheço-te!”. Eu perguntei: “Conheces daqui, não é?”. “Não, eu conheço-te! Tu és…” e disse o nome de uma personagem das dobragens. Achei uma história encantadora, nunca me esqueço. Conto sempre essa história, que acho uma coisa absolutamente ternurenta. Ele conhecia-me pela voz, percebeu perfeitamente quando me ouviu ali a dar ordens no palco. É uma boa recordação. E vocês também são uma coisa muito boa, enchem-me a alma! (risos)
Nós é que queremos agradecer as excelentes dobragens que fez e o contributo que deu para a nossa infância.
Ainda bem que se divertiram. E guardem essa infância convosco muitos anos, porque este mundo é muito complicado. Guardem isso o máximo de tempo que puderem!
Aqui fica uma mensagem da Margarida Rosa Rodrigues para os fãs (especialmente para os fãs de "Os Três Mosqueteiros", como podem comprovar na parte final):
Deixem também os vossos comentários! :)